terça-feira, 4 de janeiro de 2011

OS DESAFIOS DA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

A sustentabilidade depende além de conscientização, exemplo, portanto, é necessário apresentarmos as rotas de esperança e do bom senso. Temas como qualidade do ar, gestão dos recursos hídricos, eficiência energética, materiais recicláveis, eco-economia, verde, biodiversidade, terra e cultura da paz podem ser contemplados em nossos projetos. Etapa por etapa, dentro de uma evolução gradativa e inteligente que possa perceber a dimensão das aplicações e seus efeitos no bem-estar, no conforto e no equilíbrio da sociedade, da cidade e do planeta.
Se todos nós já temos consciência da existência de um problema, por que não investir em construções sustentáveis, tendo em vista que a indústria da construção é uma das que produz maior impacto no meio ambiente. Devemos considerar, por exemplo, que 70% da energia consumida nas grandes cidades deve-se aos edifícios e que o Brasil ocupa o 4o. lugar como um dos maiores emissores de CO2, gás causador do efeito estufa.
As pessoas, os consumidores estão se conscientizando sobre a necessidade de contribuir para um mundo melhor, e estão mudando seus hábitos, mesmo que para isso tenham que pagar um pouco mais dentro da perspectiva do curto ou médio prazo. Os investimentos se dão em produtos e serviços de empresas com características intrínsecas verdadeiramente sustentáveis, apoiadas nas perspectivas ambiental, social e econômica.
É preciso transformarmos dificuldades em oportunidades, desafios em ousadia, lacunas técnicas em pontes criativas, lamúrias e desculpas em atitudes responsáveis e corajosas que busquem a superação, o talento, a arte e abandonem o conformismo e o lugar comum.
O povo brasileiro vive a luta diária da sobrevivência com recursos escassos, pouco ou quase nenhum incentivo, dificuldades de toda a ordem, mas ainda assim, se supera e sobrevive dia a dia com uma arte que lhe é peculiar. A criatividade e a inovação correm nas veias, e ainda presenteia todas as adversidades com um sorriso após a curva de cada dia. Sejamos brasileiros, com orgulho e toda a brasilidade que nos é natural, buscando e aflorando o lado positivo da nossa natureza e competência que exporta aviões.
A natureza possui duas formas de mudança: pela evolução natural ou por catástrofes. Vários fatores ocorrem a cada segundo provocando mudanças. Portanto, é preciso seguir a natureza e mudar optando pela evolução natural, abraçando a tecnologia disponível e os desafios que esse caminho nos aponta. Quatro são as etapas deste processo: provocar o engajamento das pessoas, medir os progressos ("o que não se mede, não se pode gerenciar"), desenvolver e fortalecer as lideranças, e finalmente transformar.
O alto custo das obras, desperdícios e retrabalhos, estão muito ligados à falta de comunicação entre os profissionais do setor. É preciso investir fortemente no planejamento, na utilização de ferramentas de simulação e realizar diversos estudos para que a obra possa ser sentida e que os problemas possam ser previstos e solucionados na fase de projeto e não no campo. O projeto deve ser pensado e realizado em conjunto por engenheiros e arquitetos, onde todos assumam o compromisso pela busca das soluções técnicas, econômicas e ambientais, além da responsabilidade de realizar uma obra durável e inteligente, por meio da integração e consciência da interdependência de seus diversos atores.
Podemos dizer que o problema é de atitude e coragem para abraçar os desafios de forma que o artista e sua obra possam transcender o sonho original, transformando-o em realidade, superando limites e expectativas. A sustentabilidade verdadeira começa com uma conversa transparente e aberta entre todas as partes, isto é uma declaração de interdependência.
Quando a primeira obra de construção sustentável foi sonhada no Brasil e no mundo, as soluções não estavam disponíveis. Houveram profissionais que selecionaram, qualificaram e desenvolveram parceiros, produtos e soluções que pudessem não somente serem aceitas, mas principalmente, que não se perdesse o princípio básico da engenharia quanto à qualidade, durabilidade e atendimento às normas técnicas.
Inúmeros são os investimentos em retrofits e novas obras no Brasil para a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016, resta ao Brasil a oportunidade de se apresentar ao mundo como um importante ator global na redução das emissões, assumindo uma posição de liderança e inovação criativa apropriando regionalmente o que tem sido pensado hoje mundialmente para as construções sustentáveis.
Práticas de desconstrução sustentável e não demolição, de forma a gerar o mínimo de impacto nos aterros e por conseqüência no meio ambiente, tendo como premissas: a destinação adequada dos resíduos às empresas certificadas, a elaboração de inventário de emissões e a análise prévia dos riscos ambientais, é uma quebra de paradigma. Mas a pergunta virá, ... E quanto eu terei que pagar a mais por isso?
É preciso um esforço inicial grande para buscar a excelência no projeto, as melhores soluções técnicas, o produto certificado e os parceiros qualificados, assim como, é preciso esforço para se exercitar constantemente, para se alimentar de forma saudável, e para as boas práticas sociais, mas quando se torna um hábito e uma questão de princípios, os benefícios são inegáveis.
"Saber fazer, e fazer saber" é uma frase importante no caso das obras verdes ou sustentáveis. É preciso explicar ao usuário ou comprador e sociedade o que foi feito e quais foram as preocupações ambientais e de sustentabilidade do projeto, pois muitas vezes, estas não são perceptíveis. Portanto, Fazer Saber faz parte de um processo de educação, conscientização e valorização de cada etapa desenvolvida para que o pós-uso justifique os investimentos realizados.
A disseminação das melhores práticas tem ocorrido de forma gradual, com o aumento da demanda do mercado, a indústria tem se organizado para atender. Vamos liderar e não reagir a todas essas mudanças, compartilhar os valores da sustentabilidade e garantir que as edificações não nasçam obsoletas. Entretanto, antes de tudo é preciso cuidar da sustentabilidade pessoal, porque se as pessoas não estiverem bem, elas não irão querer cuidar do planeta.
Talvez a terra possa nos ensinar que estando 'morta' é preciso provar que está viva. Portanto, mentes, braços, almas e corações à obra, não como uma paixão volátil, mas como um amor inteiro e verdadeiro, onde se entrelaçam as almas e os sonhos, pois sabemos que a melhor maneira de prever o futuro é projetá-lo.
Enga. Cristiane Silveira de Lacerda - Diretora ECOCONSTRUCT BRAZIL

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